Neste momento relembro meu passado, e por mais bizarro que pareça, também relembro meu presente, meu futuro. Não se sintam confusos, há uma razão para tamanho devaneio. Aqui, no mundo em que habito o tempo não passa.
Quem sou eu? Onde estou? Eu não sei. Eu desconheço minhas origens, eu não sei minha idade, nem ao menos sei qual é a cor dos meus olhos.
Incessantemente andei sozinha por este labirinto, que parecia não ter mais fim. Sempre houve pedras no caminho.
Constantemente me perdia, nunca havia visto uma mera luz, pois aqui foi sempre noite, sempre escuro. E eu, continuamente só. Nunca houve ninguém com que eu pudesse interagir, conversar, escutar... Então o que eu fazia era fechar os olhos e tentar sonhar. Mas nunca tive razão o bastante para sonhar, já que sonhos são resultados de algo que fazemos ou deixamos de fazer, eu não conseguiria. Pois aqui existia apenas eu e a noite. Nem ao menos havia estrelas no céu, aliás, o que eram mesmo estrelas?
Eu disse, nunca vi a luz, então, tudo o que fosse iluminado eu desconhecia. Eu ficava todo o tempo a pensar, se um dia eu poderia, nem que por 2 segundos, contemplar a presença da luz, mínima que fosse, distante que fosse...
Meu mundo era assim, sombrio, anoitecido, sem lua, sem constelações. Sem guerras, contudo, também sem paz. Sem ódio, porém sem amor.
Se não havia bonito, não havia feio. Se não havia sol, muito menos haveria lua. Então eu penso: Se existe escuridão, deve existir a luz! – fecho os olhos, suspiro, abro-os novamente – Se nem em sonho, como poderia na realidade?
Os dias passam. Dias não, noites. As noites passam. Na verdade, não passavam. O tempo não passava.
Era sempre assim, se os ponteiros de um mísero relógio marcassem 23h40min, dessa maneira permaneceria, e nunca mudaria. Isso porque este é o MEU mundo, e o meu mundo não gira.
Sabe o que é estranho? Eu sempre me perco, mesmo não me movendo, eu me perco.
Seja em pensamentos, em devaneios. Eu me perco e não consigo me encontrar.
Eu já deixei de falar, de ver, de escutar, até mesmo de pensar, deixando assim, de existir. Mas eu nunca deixei de sonhar ou se quer despertar de um sonho. Isso há muito tempo atrás. Eu não sonho mais... Não sonho mais...
E agora é a mesma hora, o mesmo minuto, e o mesmo segundo, desde que comecei a pensar. Isso é um pensamento, apenas um pensamento – triste destino.
